PROCURA POR AUTO-ESCOLA CAI PELA METADE EM SALVADOR

O sonho de tirar sua habilitação para carro ou moto, adquirindo assim, mais independência para transitar pela cidade não é mais uma prioridade do cidadão. Com o aumento dos gastos sentido pelos consumidores em todo o país, desde o agravamento da recessão no ano passado, o foco agora é pensar no custo do que é básico para o lar, enquanto se adia outras pretensões, nos quais se inclui a carteira de motorista.

Na Bahia, isso já está se refletindo com o fechamento de onze Centros de Formação de Condutores (CFCs), no ano passado, e mais quatro agora em 2016, até o início de maio. De acordo com o Sindicato das Autoescolas e Centros de Formação de Condutores do Estado da Bahia (Sindauto Bahia), atualmente existem 334 autoescolas funcionando em todo o estado, dos quais 90% delas são sindicalizadas.

Segundo o presidente do Sindicato, Abelardo Filho, o número menor de alunos associado ao custo crescente para se manter o CFC funcionando está dificultando a sustentação deste serviço no mercado. “Após uma série de audiências realizadas pelo sindicato, que ouviu proprietários em todo o estado sobre a atividade das autoescolas, constatamos uma queda de 50% nas matriculas entre 2014 e 2015”.

O presidente, que também é proprietário de um CFC, ainda exemplificou através de seu negócio particular. Segundo ele, as turmas de aula teórica da empresa tinha uma média de 25 alunos, há pouco mais de dois anos. Hoje são 10 a 12 aprendizes na sala.

Quem procura uma autoescola para tirar sua primeira habilitação na categoria B (carros de passeio) em Salvador atualmente, terá um custo que varia de R$ 1.200 a R$ 1.700. Esta margem de gasto decorre da infraestrutura, localização da escola, além da qualidade e conforto dos carros oferecidos para as aulas.

Embora represente um investimento de valor considerável, Abelardo Filho explica que os CFCs, em sua maioria, não praticam um valor caro. “A sociedade de uma forma geral desconhece o rendimento do valor de uma autoescola. Um estudo feito pelo Sebrae apontou que estamos cobrando hoje 80% do valor real”, defendeu.

Segundo Abelardo, são muitos custos e poucos descontos envolvidos. “O salário de cada instrutor. por exemplo, é de R$ 1.338, mais vale refeições, seguro de vida, plano de saúde, todos eles obrigatórios. Além disso, os carros também precisam de manutenção constantemente. Kit de embreagem precisa se trocar entre seis meses e um ano. O veículo trabalha sempre aquecido, pois fica a maior parte do tempo parado e ligado, o que vai desgastá-lo mais rápido”.

Os carros nos CFCs, explica ele, também não possuem subsídios, como os táxis. “Não há redução de IPI, ou ICMS. Tudo custo nosso é como se fosse um carro comum. Além disso, não podemos esquecer do aumento do combustível, que é praticamente a matéria-prima de toda autoescola”, observou.

Para enfrentar um momento difícil, Abelardo Filho tem orientado aos demais proprietários a usarem a criatividade ao oferecer o serviço, buscando se destacar e divulgar mais sua marca, mostrando diferenciais. “É preciso que o proprietário saiba qual o perfil do seu cliente, quem é seu público-alvo, e melhorar o serviço, sobretudo no que diz respeito à qualidade de ensino”.

Outra iniciativa que Sindauto Bahia tem buscado é dialogar com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-BA) a fim de dar início a uma parceria no qual os alunos da Escola Pública de Trânsito (EPTRAN) possam ter as aulas teóricas do curso de formação no espaço físico das autoescolas. Uma iniciativa que poderia beneficiar não apenas os CFCs como também geraria um menor custo para o Estado com a manutenção de espaços físicos das EPTRANs.

Emissões
Após registrar um aumento no ano de 2014, a emissão da primeira Carteira de Habilitação Nacional (CNH) na Bahia, voltou ou cair em 2015, e a tendência é que a redução continue pelo ano de 2016.

De acordo com os dados do Departamento Estadual de Trânsito da Bahia (Detran-BA), foram emitidas 148.942 habilitações PPDs (Permissão Para Dirigir – as habilitações temporárias para os condutores recém-aprovados no teste prático do órgão) no ano de 2015. Em 2014, esse número ficou levemente superior, com a emissão de 150.892 carteiras.

Pelos dados do órgão também é possível notar um primeiro quadrimestre mais fraco que os últimos dois anos. Em 2014, o número de PPDs emitidas pelo Detran-BA entre janeiro e abril foi de 47.791. No ano seguinte, esse percentual chegou a 49.921. Em 2016, até agora, foram 41.259 permissões temporárias para condutores recém-formados.

CNH acaba em segundo plano
Para o economista Isaias Mattos, que é especialista em finanças, a menor procura para tirar a primeira habilitação decorre não apenas do alto valor de investimento. Ele também é reflexo de um novo comportamento adotado pela sociedade brasileira desde quando a crise econômica agravou-se no ano passado.

“O aumento da inflação, a falta de confiança do consumidor, associada com o aumento do desemprego, e da queda de renda do trabalhador, criam juntas uma situação em que as famílias começam a priorizar alguns gastos enquanto outros vão ficando em segundo plano. É um efeito dominó”, explica Mattos.

Com menos dinheiro, segundo aponta o economista, o consumidor prefere não arriscar um gasto muito alto se não há um retorno à curto prazo. Este fator também está associado à queda de vendas de automóveis. “O raciocínio do consumidor, desconfiado com o cenário econômico, agora é gastar o mínimo possível, então é comum pensar: ‘Pra que retirar a habilitação agora, se não terei como comprar um carro neste momento?’”, exemplificou.

Com necessidades básicas falando mais alto, a perspectiva de mudança agora depende das respostas que o novo governo pode dar à economia. “Fatores como inflação alta e desemprego fatalmente respingam em várias outras atividades. Esse comportamento só pode ser mudado a partir do momento que o consumidor confiar no mercado novamente”.

Foto: divulgação